Apesar de morar em Santos, nasci em São Vicente, conhecida como a capital das mulheres feias, embora o título seja muito disputado com Cubatão.
Meu azar já começou aí, enquanto todo calunga grita que nasceu em Santos, eu tinha o estigma de nascer em São Vicente.
Meu pai decidiu levar minha mãe para comer um doce na biquinha. Acredito que tamanho atentado terrorista tenha levado minha mãe, grávida, a um estado estressante tão alto que naquele momento a bolsa estourou.
Naquele estado emergencial, meu pai pegou minha mãe em seus braços e correu para o carro, para ser mais rápido ele passou por baixo de uma escada enquanto corria.
Quando chegou ao carro, ele percebeu que havia perdido as chaves. Sem tempo para solucionar o problema, chamou o primeiro taxi que apareceu para levá-los ao hospital. Para agilizar, foi em direção ao hospital São José, o maior de São Vicente, quase o único.
Ao virar na primeira esquina, uma freada brusca surpreende meu pai e minha mãe (segundo eles a marca que tenho na cabeça foi causada nessa freada por um impacto contra a bacia de minha mãe, mas isso é outra história). Ao olhar para o motivo da freada uma gata ou gato negro cruzava com sua prole a rua.
Chegando ao hospital, minha mãe desce do carro e em sua náusea quebra o retrovisor do carro do taxista, inclusive o espelho nele contido. Nesse ínterim, um rápido lampejo de sorte (que logo se apagaria): Um enfermeiro vê minha mãe e corre para socorre-la enquanto meu pai discute os valores a pagar ao taxista enfurecido.
Após terríveis horas de dor e sofrimento das quais pouco me lembro, finalmente saiu ao mundo a primeira parte de meu corpo.
Esqueci de mencionar acima que a gestação era de sétimo mês, e que por motivos incertos o processo para meu nascimento foi parto normal, portanto a primeira parte do meu corpo a conhecer o mundo foi o pé esquerdo.
Ao ver a situação, o médico que realizava seu primeiro parto, em um momento de desespero decidiu apelar para procedimentos pouco ortodoxos, e sem qualquer cerimônia, colocou suas mãos envolta do pé rebento e começou a puxá-lo, o ato de desmembramento só foi impedido pois havia um enfermeiro (duvidoso) de quase dois metros de altura que segurou e doutor e gritava com uma voz exótica:
- Calma moço ! (Vale mencionar uma tatuagem pouco visivel no braço do enfermeiro, um pentagono com uma faixa vermelha, outra preta e outra branca.)
Tendo em vista a situação, apelando para métodos ainda menos convencionais, a equipe deciciu devolver o pé para onde ele veio e começar a cesariana.
Após cerca de doze horas após os eventos supracitados, meu pai teve o primeiro contato visual com seu recém nascido filho. E ali, a família Arruda Salgado via seu mais novo membro mecher os braços e a perna direita.
Tanta confusão merecia resolução, e esta seria o momento de receber meu nome.
Em homenagem a meu tatatatataravô, meu pai decidiu colocar-me o nome de José Silva Arruda Salgado. (Apenas para completar as informações, Silva era um nome ausente tanto no nome de meu pai quanto de minha mãe.)
Ao chegar ao cartório meu pai disse o nome pretendido ao escrivão, porém meu pai sempre teve problemas sérios de dicção. Pronunciando meu nome ao escrivão, o que deveria ser José Silva Arruda Salgado, virou Josécil Varruda Salgado.
Alguns supersticiosos dizem que a exclusão da arruda do meu nome me trouxe minha sina de azar; numerólogos alegam que a ausência de um "A" é a causa.
Independente do motivo, meu conturbado nascimento é apenas o primeiro relato de minhas desventuras, ou como diz um companheiro, meu carma.  
